
Pesquisa foi feita por especialistas da Ufal e custeada pela empresa
As primeiras análises de amostras d´água que técnicos da        Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e do Instituto estadual do        Meio Ambiente (IMA-AL) colheram na Lagoa Mundaú, logo após o        rompimento da mina 18 da empresa petroquímica Braskem, não        acusaram prejuízos significativos adicionais ao já poluído        ecossistema.
      Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil | Edição: Graça        Adjuto
      Parte da mina 18 se rompeu por volta das 13h45 do último dia        10, em um ponto sob as águas da Lagoa Mundaú. O instante em que o        solo cedeu foi registrado por câmeras de segurança que flagraram o        redemoinho que se formou quando a água invadiu a caverna        subterrânea, resultado de décadas de exploração do sal-gema. Às        15h30, com o apoio da Defesa Civil estadual, os técnicos        sobrevoaram o local a bordo de um helicóptero e colheram as        primeiras amostras, que se somaram às de outros 16 pontos        monitorados há anos.
      "Alguns [dados] ainda estão em análise, mas, com base nas        informações [já concluídas], não há nada que comprove que [o        rompimento da] mina 18 teve impacto [na qualidade da água da        lagoa]. Pelo menos não neste momento", disse o pesquisador do        Laboratório de Aquacultura e Ecologia Aquática (Laqua) e professor        da Ufal, Emerson Soares, durante entrevista coletiva realizada        nesta segunda-feira (18).
      "Poderíamos ter encontrado uma elevação dos níveis de cloreto e        de sódio, principalmente. E de níveis de cálcio, magnésio,        condutividade elétrica e salinidade [mas] não observamos [isso]",        acrescentou Soares, garantindo que os resultados são confiáveis,        mas representam um retrato do momento em que as amostras foram        coletadas.
      "Importante ressaltarmos que pegamos os dados do momento do        rompimento. E, em relação ao instante [em que as amostras foram        coletadas], não houve mudanças [significativas em comparação a        análises anteriores] que demonstrem algum produto da mina na        laguna, nenhum dado que comprove que [o desmoronamento da] mina 18        impactou a água. Pelo menos neste momento. Isso pode mudar? Pode.        Pode acontecer alguma coisa no futuro? Pode. Por isso é importante        continuarmos monitorando", frisou o pesquisador, destacando que os        técnicos da UFAL já monitoram a qualidade das águas da Lagoa        Mundaú há mais de dez anos.
      "A universidade tem um convênio com a Braskem [por causa do]        TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] que [a companhia] assinou        com o MP. Por meio da fundação universitária, recebemos recursos        para realizar essa pesquisa, mas quero ressaltar que nosso        trabalho não sofre influência alguma da empresa ou de quem quer        que seja. Nossa pesquisa é revista por pares [outros especialistas        independentes] e se virmos alguma deficiência, algum problema,        vamos mostrar e atacá-lo", afirmou Soares, garantindo a        independência e transparência dos dados.
      Esgoto
      Ainda durante a entrevista coletiva, a gerente do laboratório        do IMA-AL, Ana Karine Pimentel, atestou os resultados apresentados        por Soares, endossando a necessidade da continuidade do        monitoramento. "As condições que encontramos para o momento não        são fortes o suficiente para dizermos que há qualquer relação com        o extravasamento de sal-gema [da mina]".
      Da mesma forma que Soares, Ana Karine ressaltou que um dos        maiores problemas da lagoa é a contaminação por esgotos não        tratados, lançados indevidamente no complexo estuarino lagunar        Mundaú-Manguaba, bem como agrotóxicos que chegam ao curso d´água.        "Há uma condição de prejuízo à qualidade da água superficial, mas        com uma contribuição [do lançamento] de esgoto doméstico e de        outras fontes muito mais fortes. No âmbito da variação do nível de        salinidade, por exemplo, o que encontramos [após o rompimento da        mina 18] foi em condições muito maiores [anteriormente]", comentou        Ana Karine.
      "Aquela laguna é um depósito de problemas oriundos do Rio        Mundaú e das fontes de esgoto das cidades circunvizinhas e        ribeirinhas ao rio e à própria lagoa. A laguna Mundaú é uma        questão de saúde pública", acrescentou Soares, lembrando que        pesquisadores já apontaram que a poluição vem causando a perda de        biodiversidade do ecossistema.
      "[Anteriormente] já tínhamos identificado, na laguna, alguns        compostos altamente tóxicos, incluindo alguns que são        cancerígenos, como o DDT, que é proibido no Brasil, e que são        levados para a laguna junto com [produtos] agroquímicos lançados        [em plantações próximas]. Por isso o sururu está sumindo. Porque a        lagoa já não tem alimento [para a espécie de mexilhão], porque        está poluída.", finalizou o pesquisador.
    




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