
Entre os abusos, estão maus tratos e violência patrimonial
Por Rafael Cardoso - Repórter da Agência Brasil
      O vídeo de uma mulher tentando sacar um empréstimo no nome de        um idoso morto que ela trazia em uma cadeira de rodas circulou nas        redes sociais e na imprensa e causou indignação até mesmo no        exterior. Presa, Érika de Souza Vieira Nunes alega que estava        tentando buscar o dinheiro para que o tio comprasse uma TV e        reformasse a casa, mas a polícia trata o caso como tentativa de        fraude porque Paulo Roberto Braga, de 68 anos, já estava morto no        momento em que a sobrinha pedia para que ele assinasse.
      Independentemente do desfecho do caso, as suspeitas chamam a        atenção para a vulnerabilidade de idosos, e especialistas ouvidos        pela Agência Brasil descrevem que o cenário no país é de aumento        da exploração e agressão a essa população.
      Só nos três primeiros meses de 2024 já foram registradas 42.995        denúncias de violações contra pessoas de 60 anos de idade ou mais        na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH). Número bem maior        do que os do mesmo período de 2023, com 33.546 registros, e de        2022, com 19.764. Entre os abusos mais comuns este ano, destaques        para negligência (17,51%), exposição de risco à saúde (14,68%),        tortura psíquica (12,89%), maus tratos (12,20%) e violência        patrimonial (5,72%).
      E o que leva familiares a agredir ou a explorar os idosos? Cada        caso tem particularidades, mas há fatores mais comuns como        exaustão do cuidador, falta de preparo, desconhecimento da lei e        condições socioeconômicas precárias. É o que explica Sandra        Rabello, coordenadora de projetos de extensão do Núcleo de        Envelhecimento Humano da Universidade Estadual do Rio de Janeiro        (Uerj), e presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade        Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
      "As famílias podem cometer esses crimes por falta de        conhecimento e de preparo ao cuidar de pessoas fragilizadas. A        falta de informação, de divulgação sobre a legislação, traz        dificuldades nesse cuidado. As condições de vida, como o        desemprego, também favorecem as pessoas a cometerem determinados        crimes, como empréstimos consignados, extorsão, pressão sobre os        idosos, violência psicológica. Outra questão é a exaustão sobre o        cuidado de idosos, fragilizados ou com síndrome demencial. Isso        pode prejudicar muito os relacionamentos dentro das famílias",        explica Sandra Rabello.
      Para a especialista, é preciso olhar para além dos aspectos e        responsabilidades individuais de cada crime. "E entender que há        dimensões coletivas na violência contra os idosos, que começam com        exclusão e invisibilidade. Falta um olhar mais atento da sociedade        e ações mais concretas de órgãos públicos para fiscalizar o        cuidado dos idosos".
      "Os idosos tendem a proteger filhos, netos que, às vezes, são        dependentes químicos ou estão desempregados. A identificação de        abusos pode surgir através da convivência de um profissional com a        pessoa idosa, que vai observar os sinais e fazer uma intervenção.        Nos casos de exploração, o profissional deve estimular a pessoa        idosa a fazer a denúncia ao Ministério Público", disse Sandra        Rabello.
      Entendimento semelhante tem Fatima Henriette de Miranda e        Silva, presidente da Comissão de Atendimento à Pessoa Idosa da        Ordem dos Advogados do Brasil-RJ.
      "Para prevenir essas violências, entendo ser necessário        investir em educação e conscientização sobre os direitos dos        idosos, promover o diálogo e o apoio dentro das famílias,        proporcionar serviços de assistência social e psicológica para os        idosos em situação de vulnerabilidade", defende Fatima.        "Importante ter campanhas, políticas públicas, com participação de        governantes, familiares e toda a sociedade".
      Quando a violência acontece, aqueles que a presenciaram devem        buscar os canais apropriados de denúncia. Em muitos casos, uma        intervenção inicial é capaz de evitar problemas maiores, disse a        advogada.
      "Vítimas, familiares ou qualquer pessoa que testemunhe casos de        abusos, denuncie imediatamente às autoridades competentes, como        delegacias especializadas em proteção do idoso, o Ministério        Público ou o Disque 100. Também estão sendo recebidas queixas nas        delegacias de bairro", recomenda Fatima.
      O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania reforça que o        Disque 100 funciona 24 horas por dia, nos 7 dias da semana e        registra denúncias de violações, dissemina informações e orienta a        sociedade sobre a política de direitos humanos. O canal pode ser        acionado por meio de ligação gratuita, discando 100 em qualquer        aparelho telefônico. Pela internet, as denúncias podem ser feitas        no site da Ouvidoria, pelo WhatsApp (61) 99611-0100) ou Telegram.        O serviço também dispõe de atendimento na Língua Brasileira de        Sinais (Libras), no site da Ouvidoria.
    
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